Pode parecer estranho, mas caminhar pelo cemitério em busca de detalhes de arte tumular e histórias de mortos é uma experiência gratificante. Ao passar em frente ao local, me chamou a atenção a escultura de um anjo. E, como o portão estava aberto, entrei. Fiquei observando um pouco o local antes de começar a fotografar. Vi um cachorro descansando em cima de um túmulo e esse foi o primeiro tema a ser capturado. Daí, a andança continuou entre leituras de lápides e fotos de jazigos e esculturas. Nos túmulos das primeiras fileiras, muitos dos que contribuíram para o desenvolvimento de São João Nepomuceno e, hoje, emprestam seus nomes às ruas e espaços públicos da cidade. Uma ótima aula sobre a história local. E quanto maior fora a importância e presença econômica e política da pessoa, melhor o acabamento e a localização da sepultura. No alto do morro, o espaço reservado para os menos abastados, com túmulos menos rebuscados e mais geométricos.
Interessante também a beleza e os efeitos do tempo nas estátuas de santos e anjos. Outra curiosidade, lendo uma lápide em especial, adornada com dois anjinhos. Sobre o túmulo, as letras em relevo perpetuam dois momentos de grande infelicidade do Dr. Péricles Vieira de Mendonça, político destacado na cidade, filho do Cel. José Brás de Mendonça: o falecimento de seus dois filhos ainda pequenos. O primeiro, Murillo, nascido em 11 de julho de 1909, morreu no ano seguinte, em 20 de abril. A segunda, de nome Lygia, nasceu em 4 de abril de 1912 e morreu no mesmo ano, em 18 de dezembro.
No mais, o silêncio e a estranheza do vazio existentes no local, onde mortos das mais diversas origens e sortes se encontram para o último repouso, em condições semelhantes, mesmo que sobre a terra entes vivos se esforcem para manter as diferenças em vida.