Quando penso em “burguês” sempre me vem à cabeça a imagem de um homem bem vestido, rico e, por vezes, avarento. Em nada se assemelha a essas seis figuras desumanizadas. Mas a história que a obra Os Burgueses de Calais representa é inspiradora e Rodin captou com genialidade.
Imagina você, um cara bem de vida, morando numa cidade bacana ao norte da França. Eustache de Saint-Pierre, um dos burgueses retratados na obra, era um cara assim. Só que o país dele estava vivendo a Guerra dos Cem Anos e a cidade onde morava, Calais, era o ponto mais próximo da Inglaterra, separado apenas pelo Canal da Mancha.
Para entrar no território francês, o rei inglês, Eduardo III, fez cerco a Calais, em setembro de 1346. A cidade resistiu por onze meses quando a fome a obrigou negociar rendição. Rei Eduardo estava impaciente e, num primeiro momento, decidiu que faria uma execução em massa dos moradores da cidade, mas aceitou poupar suas vidas na condição de que lhe dessem seis burgueses para serem sacrificados. Eustache foi o primeiro a se oferecer e foi seguido por outros cinco, incluindo uma mulher. Ao ver o grupo chegar em trapos, a rainha Philippa de Hainaut convenceu o marido a desistir da ideia.
A imagem que a rainha viu é a mesma que Rodin desejou retratar quando recebeu, em 1884 do governo de Calais, a missão de criar um monumento em memória à Guerra dos Cem Anos. A escultura foi concluída em 1889 e está instalada na Praça do Soldado Desconhecido, em frente à Prefeitura da cidade. Existem outras onze cópias do conjunto. A que fotografei está no jardim do Museu Rodin em Paris.